Cena Favorita 1: O Terror das Mulheres
Uma das minhas cenas favoritas do cinema vem do filme O Terror das Mulheres (The Ladies Man, 1961), de Jerry Lewis. No filme, ele é um cara que foi traído pela namorada e vai trabalhar numa casa onde só tem mulheres. Volta e meia sempre aparece um homem pra buscar uma delas pra sair e é ele quem recepciona o sujeito. Como estamos numa comédia, o que Lewis faz recepcionando cada um é hilário, mas o que me chamou a atenção foi uma recepção em particular. Chega um senhor bem vestido, educado, e aguarda paciente sentado a namorada terminar de se arrumar. O empregado vivido por Lewis começa a olhar com interesse pro homem e acha que ele lembra alguém famoso, o ator George Raft. É aí que o senhor se revela: “eu sou George Raft”. George Raft atuando como George Raft! Mas quem é George Raft, afinal? Se você estiver assistindo O Terror das Mulheres na estreia, gostar da Hollywood clássica ou for cinéfilo, vai lembrar que Raft foi um dos mais famosos atores dos anos 1930-1940 do cinema americano. Ele ficou famoso por fazer papeis de gângster, mas assim como James Cagney, também era um excelente dançarino – Raft esteve na Broadway e era conhecido por se destacar no tango. Contudo, Raft ficou muito marcado por aqueles papeis, impedindo que fosse mais versátil, sem contar que não colaborava em nada ter tido amizades com mafiosos. Uma ponta aqui e outra ali, a carreira dele foi minguando. Pois bem, quando Lewis encontra Raft em seu filme, ele pede que o ator demonstre um truque que ficou famoso justo em filme de gângster, A Vergonha de Uma Nação (Scarface, 1930) – aparentemente filme de gângster tem que ter um truque com moeda, vide Jude Law em Estrada para Perdição (Road to Perdition, 2002). Raft acaba se embananando e Lewis ri da cara dele, apenas pra Raft responder, “ora, eu sou humano, qualquer um pode errar!” E ainda implora: “por favor, acredite. Eu sou George Raft.” Eu gosto dessa parte por esse motivo: Raft publicamente reconhece que não tem nada além do nome – é um homem que o tempo esqueceu mas que ainda se agarra ao nome pela glória do passado. Se ele perde isso, nada mais lhe sobra. Então ele lembra a Lewis que é um dançarino excepcional – como demonstrou em Bolero, de 1934 – e o convida pra dançar e demonstrar que ele é realmente quem diz ser, e Lewis se deixa ser conduzido. E aí me impressiono ainda mais com toda a sequência: Raft não consegue convencer pelo tipo durão, mas pelo sensível. Não é a imagem de “macho” que pega Lewis – vide que até hoje tem idiotas usando camiseta dizendo “quer moleza? Faz balé”. Os papeis de gângster vieram depois do Raft dançarino. Ao demonstrar esse lado, aquilo que não sobressaiu por não ser um “ideal macho”, há um questionamento interessante sobre que tipo de imagem e legado a gente quer deixar – principalmente concernente ao comportamento masculino.
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