Reflexões Rápidas: A Máquina do Tempo, de HG Wells

Tem alguns livros que realmente ficam com você apesar do tempo. Vidas Secas, por exemplo, é um dos meus livros favoritos e breve o lerei pela quinta ou sexta vez, a linguagem e a expressão de Ramos me fascinam. E tendo terminado de reler A Máquina do Tempo, de HG Wells, sinto que também é desses livros que continuam comigo embora tenha me esquecido dele por anos. É impressionante como uma história de fascinação e temor com o desconhecido, com o futuro da raça humana, escrita na Inglaterra vitoriana, permaneça relevante - não pelos elementos científicos, claro, até Wells menciona isso em texto posterior, mas pelo assombro do inesperado, do futuro, do que pode vir a ser. Há quem (não) tenha lido e achado que é apenas uma aventura boba, mas longe disso: as descrições espaciais são belíssimas, quase líricas. A visão do Sol e das estrelas se apagando, dos monumentos ozimândicos no tempo dos eloi e morlocks, as percepções do Viajante e do narrador de um mesmo momento da viagem, coisas assim te tiram o ar por soarem algo místico. O protagonista, mesmo quando vira um homem de ação - e que acaba fazendo besteira, aliás -, não perde o olhar analítico. Carrega consigo seus próprios valores e percepções mas sabe quando é preciso parar e apenas observar. Uma das coisas que me chamaram a atenção no livro foi a relação do Viajante com Weena - ela procura dissuadi-lo de se embrenhar em mais e mais perigos, mas de nada adianta e ela acaba pagando o preço pela imprudência dele. Eu digo que essa parte me chamou a atenção justamente porque ela expõe um conflito que o Viajante não percebe mesmo depois de ter voltado, um conflito entre uma racionalização pura e bruta e o exercício das emoções. O final do livro, com as flores de Weena nas mãos do narrador, deixa claro que passou batido pelo Viajante - o que torna ele mais crível ainda como personagem - o fato de que a raça humana ainda guardava algo de bom e positivo consigo ao longo de éons e éons. Com isso, não é um livro que se trata apenas da inventividade humana, mas do próprio ser humano. A flor de Weena carregava tanto significado pela sua existência quanto as elucubrações do Viajante - as últimas explicam a sociedade, mas a primeira expressa quem somos, tendo resistido à mudança dos tempos e mantendo o que há de belo apesar de tudo.

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